domingo, 17 de março de 2019

Apresentado às Abelhas

A minha primeira experiência com abelhas, passou-se em abril de 1992, tinha eu na altura, 21 anos.
Fui passar um fim de semana de primavera a casa do avô do amigo Daniel, em Tomar. Lembro-me que o quintal tinha algumas árvores de fruto em flor e que como natural, havia abelhas nessas flores. Mas para mim, citadino, a presença desses insectos, voando próximo e zumbindo, arrepiava-me, alertando-me para fugir dali logo que possível. 

O quintal não era muito grande e lembro-me que tinha uma nespereira enorme e algumas oliveiras dispersas. Ao fundo, junto de um casebre, estavam as colmeias em fila indiana. Deviam ser umas dez caixas de cores aguadas, leves mas cheias de vida e de movimento junto da entrada, claro. 

O dia estava quente, parecia uma manhã de verão, e convidava ao uso de pouca roupa. Todos estávamos de manga curta, quando em determinada altura, o avô, quis mostrar-nos mais de perto aquelas caixas, coloridas. Mas preveniu que devíamos passar por trás porque só ali era seguro. 
Lembro-me de gelar, apesar do calor... lembro-me de me deixar ficar para trás, lembro-me de querer ser o último de uma fila de quatro e de dar pequenos passos a tentar deixar-me ficar pensando que conseguiria sair dali sem ser visto, como quem quer passar despercebido. Mas não deu. Quando percebi, já estávamos  a passar na zona segura, onde fizemos uma pausa propositada, para ouvirmos o zumbido que saía daquelas caixas. Era parte obrigatória do passeio ás colmeias para que tomássemos conhecimento dos sons e dos cheiros que aquelas caixas cheias de vida emanavam. 

No tempo que ali estivemos deixei de ouvir as explicações do avô sobre apicultura e deixei-me levar pelo entusiasmo e adrenalina que todas aquelas novas experiências me estavam a causar. Deixei de ouvir o terrível zumbido, deixei de suar, deixei-me contemplar por tudo aquilo, como se fosse um apicultor experiente.

Estávamos quase na hora do almoço, quando alguém alertou que havia um enxame pendurado numa oliveira. Enquanto contemplava aquele enorme cacho de abelhas, penduradas umas nas outras, o avô e o pai do Daniel preparavam o material para intervir e resgatar aquele precioso enxame.

Percebi que estava entre profissionais competentes quando os vi trabalhar. Senti-me orgulhoso de poder estar ali bem perto deles e ver tudo o que faziam. E o mais interessante é que, enquanto faziam, diziam o que estavam a fazer para que nós, miúdos,  pudéssemos perceber o que ali estava a acontecer.

Como o enxame era muito grande e havia espaço livre na oliveira, optaram por colocar por cima do cacho e sobre os troncos da árvore, apoiada, uma alça cheia de quadros de cera nova. Nesse momento, o enxame que estava parado e pendurado, começou a mexer-se. Aquelas abelhas, pareciam formigas. Apesar de terem asas, começaram a andar, começaram a caminhar umas sobre as outras, todas num único sentido, todas para cima, entrando na caixa cheia de quadros. Aos poucos o cacho foi ficando pequeno, diminuindo de tamanho. E fomos almoçar.

Ao final do dia, aquela alça de colmeia estava cheia de abelhas. Disse o avô que durante a noite, no escuro, iria move-la dali, para o seu local definitivo, junto das outras.
E assim foi, caiu a noite e moveu-se a caixa. Porque as abelhas não vêm no escuro e por isso ficam quietinhas.

Não me lembro dessa noite, nem do dia seguinte, sei que foi uma experiência maravilhosa, que jamais esquecerei. Se foi o começo da apicultura, para mim, não sei dizer, mas foi revivido em 2012, quando visitei uma feira de mel e percebi que queria conhecer melhor as abelhas. Nesse ano, sim, comecei a ler e estudar abelhas... 


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